Sistema permite que passageiros escolham apenas os serviços que precisam, mas exige atenção na hora da compra para evitar custos extras
As companhias aéreas brasileiras estão revolucionando a forma como precificam suas passagens. O modelo de tarifas escalonadas, já comum na Europa e nos Estados Unidos, chegou com força total ao Brasil em 2025, dividindo os serviços que antes eram incluídos no preço do bilhete em opções pagas à parte.
Na prática, significa que o passageiro pode montar sua viagem “sob medida”, escolhendo apenas o que realmente precisa. Quer viajar só com uma mochila? Paga menos. Precisa despachar duas malas? Adiciona o serviço. A mudança promete democratizar o acesso ao transporte aéreo, mas também gera dúvidas e preocupações.
Como funcionam as novas categorias
Tarifa Basic
A mais econômica das opções permite levar apenas um item pessoal (bolsa ou mochila) de até 10 kg que caiba embaixo do assento. Não inclui:
- Bagagem de mão no compartimento superior
- Bagagem despachada
- Escolha de assento
- Alterações sem multa
- Reembolso
Preço médio: 30% a 40% menor que a tarifa tradicional
Tarifa Light
Inclui:
- Item pessoal (10 kg)
- Bagagem de mão (10 kg)
- Check-in online
Não inclui:
- Bagagem despachada
- Escolha de assento antecipada
- Alterações gratuitas
Preço médio: 15% a 20% menor que a tarifa tradicional
Tarifa Classic
O padrão tradicional que conhecemos, inclui:
- Item pessoal
- Bagagem de mão
- Bagagem despachada de 23 kg
- Escolha de assento com 48h de antecedência
- Uma alteração mediante diferença tarifária
Tarifa Flex/Premium
Para quem precisa de flexibilidade:
- Todos os benefícios da Classic
- Alterações ilimitadas sem multa
- Reembolso integral até o horário do voo
- Embarque prioritário
- Escolha de assento premium
- Bagagem despachada adicional
Impacto no bolso do consumidor
Um levantamento exclusivo mostra que a economia pode ser significativa para quem viaja leve. Em uma rota São Paulo-Rio de Janeiro, por exemplo:
- Tarifa Basic: R$ 189
- Tarifa Light: R$ 249
- Tarifa Classic: R$ 329
- Tarifa Flex: R$ 489
Para um passageiro que viaja apenas com uma mochila para passar o fim de semana, a economia pode chegar a R$ 140 por trecho em comparação com a tarifa tradicional.
Porém, adicionar serviços avulsos pode sair caro:
- Bagagem de mão comprada no aeroporto: R$ 120
- Bagagem despachada (última hora): R$ 200
- Escolha de assento: R$ 25 a R$ 80
Pegadinhas para ficar atento
1. Medidas rigorosas
As companhias estão sendo mais rígidas com as dimensões. Uma mochila que exceda em 2 cm o limite pode ser barrada no embarque, obrigando o pagamento de taxa extra.
2. Preços dinâmicos
O valor para adicionar bagagem varia conforme a antecedência:
- Na compra da passagem: R$ 80
- Com 48h de antecedência: R$ 120
- No aeroporto: R$ 200
3. Compartimento superior limitado
Na tarifa Basic, mesmo que haja espaço, você não pode usar o compartimento superior da cabine.
4. Conexões complicadas
Em voos com conexão, verifique se a tarifa é a mesma em todos os trechos. Algumas companhias aplicam a tarifa mais restritiva para todo o itinerário.
O que dizem os especialistas
“É uma tendência mundial irreversível”, afirma Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes. “O modelo permite que as companhias sejam mais competitivas e que passageiros que não precisam de todos os serviços paguem menos.”
Já o advogado especialista em direito do consumidor, Roberto Martinez, alerta: “O consumidor precisa estar muito atento no momento da compra. As regras precisam estar claras, e qualquer cobrança surpresa no aeroporto pode ser questionada.”
Direitos do passageiro mantidos
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) esclarece que, independentemente da tarifa escolhida, os direitos básicos do passageiro permanecem:
- Assistência material em casos de atraso
- Reacomodação em casos de cancelamento
- Reembolso integral em até 7 dias para desistência em 24h após a compra
- Franquia mínima de 10 kg para item pessoal
Dicas para economizar
1. Planeje com antecedência
Compre serviços adicionais no momento da reserva. A bagagem despachada pode custar até 60% menos se adquirida com antecedência.
2. Compare o custo total
Às vezes, uma tarifa superior com bagagem inclusa sai mais barata que a Basic + bagagem avulsa.
3. Use cartões de crédito com benefícios
Alguns cartões oferecem bagagem despachada gratuita ou descontos em serviços adicionais.
4. Considere programas de fidelidade
Membros de níveis superiores mantêm benefícios como bagagem extra, mesmo em tarifas básicas.
5. Viaje leve
Para viagens curtas, questione se realmente precisa de bagagem despachada. Uma mochila bem organizada pode ser suficiente.
Comparativo entre as principais companhias
GOL
- Basic disponível em rotas internacionais e Rio-Montevidéu
- Expansão para voos domésticos prevista para 2025
- Item pessoal: 32cm x 22cm x 43cm
LATAM
- Basic em voos para América do Sul
- Premium Economy com duas modalidades (Standard e Full)
- Item pessoal: 45cm x 35cm x 20cm
Azul
- Mantém tarifa única com bagagem de mão inclusa em voos domésticos
- Testou e descontinuou Economy Prime internacional
- Analisa implementação de modelo escalonado
Tendências para o futuro
O mercado projeta que até o final de 2025, todas as principais companhias brasileiras terão adotado o modelo de tarifas escalonadas também em voos domésticos. Além disso, novos serviços devem ser “desagregados”:
- Escolha de assento (já realidade em muitas rotas)
- Embarque prioritário
- Alimentação a bordo
- Acesso a entretenimento
- Wi-Fi
- Uso de tomadas
O que muda para o viajante corporativo
Empresas estão revisando suas políticas de viagem. Enquanto algumas optam sempre pela tarifa mais barata, outras mantêm um padrão mínimo de conforto para seus funcionários. O importante é definir claramente as regras para evitar reembolsos e discussões posteriores.
Conclusão
O modelo de tarifas escalonadas chegou para ficar. Para o consumidor, representa mais opções e potencial economia, mas exige atenção redobrada no momento da compra. A chave está em entender exatamente o que cada tarifa oferece e planejar a viagem de acordo com suas reais necessidades.
A democratização do transporte aéreo prometida pelo novo modelo dependerá da transparência das companhias e da educação do consumidor. Quem souber navegar nesse novo sistema pode voar mais pagando menos. Quem não se preparar, pode ter surpresas desagradáveis no aeroporto.